Às vésperas do segundo turno das eleições de 2022, algumas reflexões se fazem necessárias no meio artístico. Reflexões essas que deveriam ser a base para a prática pedagógica de professoras e professores de dança ao longo de todo ano, mas que em momentos de ruptura, como o de agora, se fazem ainda mais fundamentais.
Todas as integrantes do Hunna são educadoras, com formação em Licenciatura em História e com práticas profissionais como professoras de história no ensino básico, educadoras sociais e em museus. Além disso, também somos professoras de dança. E é a partir dessas experiências que queremos compartilhar com nosso público reflexões e posicionamentos.
Entendemos que ensinar/educar/instruir tem sempre como objetivo desenvolver algumas habilidades nos indivíduos que participam desse processo. E, neste processo, não existe nenhuma forma de educação que seja neutra, em nenhum contexto histórico. Seja na educação bélica espartana na antiguidade grega, a catequização de grupos nativos da América no sul pelos jesuítas no decorrer da colonização, ou a proposta transgressora de Nísia Floresta de ensinar mais do que agulha e linha para as meninas da primeira metade do século XIX.
Quando estamos em frente ao espelho de uma sala de aula de dança também deveríamos nos perguntar quais os nossos objetivos como professoras e professores. Além de ensinar um determinado estilo de dança, qual o propósito está atrelado à nossa prática pedagógica? Reproduzir passos? Fortalecer a autoestima? Possibilitar vínculos sociais? Desenvolver consciência corporal? Estimular autonomia? Colocar alunos e alunas em contato com uma nova cultura? Contribuir para a multiculturalidade com respeito e conhecimento? Ou a apropriação vazia de elementos distantes que pouco conhecemos em profundidade?
Ensinar é tomar partido, fazer escolhas, priorizar algum aspecto. E isso é política e se vincula com nossa compreensão da sociedade e do nosso lugar nela. Mais do que reconhecer que a prática pedagógica é um ato político, é preciso tornar esse ato consciente, tendo sempre em mente seus objetivos e consequências para a humanidade e nossa organização social.
A partir dessas crenças e sendo o perfil do Hunna um meio de comunicação e de educação, não poderíamos deixar de nos posicionar sobre o evento político mais importante do ano. Como quatro mulheres muito diferentes, mas que possuem em comum a dedicação à pesquisa histórica, à educação e à dança, declaramos que, no próximo domingo, apertaremos 13 na urna eletrônica e votaremos em Lula.
Nosso voto é contra a barbárie, contra o racismo, contra a misoginia, contra a lgbtfobia e contra a violência promovida pelo atual governo. Votaremos em prol da educação pública, pela expansão universitária, pelo fortalecimento da ciência e dos núcleos de pesquisa. Por um real incentivo à cultura e às mais diversas manifestações artísticas. Pela liberdade religiosa. Por nossa prática pedagógica. Por nós mesmas e por aquelas que vieram antes de nós e trilharam os tortuosos caminhos da história que nos permitiu estar aqui hoje, como cidadãs plenas. Por toda a nossa compreensão crítica do passado, nossas vivências do presente e nossas esperanças futuras.
Nosso voto é um voto firme porém crítico, pois entendemos que política não se faz apenas a cada quatro anos durante eleições. Nós não erguemos mitos, mas apoiamos projetos políticos alinhados à nossa visão de mundo e cobramos a implementação desses projetos.
A política é construída no dia a dia, a partir de diversas práticas que garantem o funcionamento pleno dos Direitos Humanos, de investimento na ciência e no Estado de bem estar social. Todos esses são elementos que dialogam diretamente com a existência do Hunna e de nós quatro.
Assim, a fim de defender nossa existência como pesquisadoras, educadoras e artistas, porque acreditamos na educação como prática de liberdade, nosso voto é 13!
Referências:
DUARTE, Constância Lima. Nísia Floresta e educação feminina no século XIX. In LÔBO, Yolanda; FARIA, Lia (orgs.). Vozes femininas do Império e da República. Rio de Janeiro: Quartet/FAPERJ, 2008.
FREIRE, Paulo. 1970. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e terra.
HOOKS, bell. Ensinando a transgredir – A educação como prática da liberdade. 2 ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2017.
LELIS, Francismara de Oliveira. Discursos e sentidos sobre a educação feminina na corte, século XIX. Uma reflexão histórica da “Polyantheia commemorativa de inauguração das aulas para o sexo feminino do Imperial Lycêo de Artes e Officios”. 2016. 99 f. Dissertação (Mestrado em História). Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2016.
LOPES, Eliane Marta Teixeira; FARIA FILHO, Luciano Mendes de; VEIGA, Cynthia Greive (orgs). 500 anos de educação no Brasil. 5. ed.; 1. reimp. - Belo Horizonte: Autêntica, 2015.
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